
MARCAS CIDADÃS: ANTECIPANDO AS EXPECTATIVAS DO CONSUMIDOR
No passado dia 26 de Maio, juntámo-nos para debater um tema que toca inevitavelmente as consciência de todos: a cidadania de marcas e, por inerência, dos seus decisores.
Enquanto muitas empresas se esgotam em informação técnica sobre a sua actuação no campo da responsabilidade social, apresentado ao mercado longos relatórios que pouco dizem ao consumidor comum, outras produzem novas ofertas, referências e linguagens altamente disruptivas.
Estes movimentos não desafiam apenas as concepções pré-existentes quanto ao modo de ser empresa e de fazer negócios, como são driver de novas consciências e, assim, indutores de novos comportamentos. De alguma forma, todos os consumidores procuram a sua ‘quota de sustentabilidade’, compatibilizando comportamentos eventualmente contraditórios no plano racional da Sustentabilidade mas que, vistos num processo de afirmação e construção identitária composta por uma infinidade de peças, resultam numa agregação que valoriza a (auto) narrativa.
Os consumidores, principalmente os mais jovens, parecem reclamar para as marcas aquilo que chamam a si, assim como outras marcas que já nasceram neste novo quadro de valores: não hesitem em extremar a afirmação de posições e a escolha destemida de causas.
Este foi o repto que deixámos neste dia 26 de Maio.
Na comunidade C-Lab, ‘marcas-cidadãs’ são precisamente as que olham o seu poder social (e não o seu dever social) como driver de crescimento.São as que sabem ser possível aumentar a competitividade de uma empresa e, em simultâneo, promover o avanço das condições económicas e sociais nas comunidades em que actuam.
O ‘EU PROFISSIONAL’ QUESTIONADO
O C-Lab subiu no dia 13 de Setembro ao Palco da Gulbenkian para a apresentação da 8ª edição das Tendências de Mudança do Consumidor em Portugal. Com esta investigação surge a crença de que se inaugura um novo ciclo no que toca ao consumidor português. Ainda que a bricolage identitária se mantenha válida, diagnosticamos movimentos que extravasam o micro e passam a apontar para decisões de vida de outra magnitude. A grande força de mudança que está a despoletar essas decisões de vida parece ser a insatisfação com o ‘eu profissional’, com empregos e ambientes de trabalho que não acompanharam a evolução rápida de outras esferas da vida, que não trouxeram novidade, ou pior, não são manipuláveis, trazem sensação de aprisionamento, inibem a expressão pessoal. Esta investigação fala de pessoas que parece terem crescido mais do que as organizações. Depois da apresentação das 7 tendências, a sessão foi animada por um painel de convidados que contribuíram para a reflexão que ali se teve: o Paulo Soeiro de Carvalho, Director de Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa, o Rudolf Gruner, Director Geral do Observador e o Joaquim Falcão de Lima, Director de Marketing Estratégico da Brisa. As 7 tendências C 2017:
- 2nd Places Idealizados
- Casa 24x7: recriação de vida e de valor
- Comércio de Emoções
- Os Novos Pacotes, uma forma de curadoria
- [RE]Focar
- A Cultura dos Jogos
- Futuros Imaginados: expectativa das marcas que o antecipam
A CONFIRMAÇÃO DE POSITIVISMO
Os resultados do Barómetro e da Função Consumo C, apresentados no dia 25 de Fevereiro na Culturgest, convergem para uma mesma conclusão: a confirmação de uma recuperação do consumo em 2015, mas em direcção a um novo modelo, no seu conteúdo e racionalidade, e não a um retorno ao passado. No final de mais um ciclo de trabalho, que encerra 6 anos de observação dos consumidores portugueses, reunimos novamente a comunidade para partilhar os resultados da última vaga do Barómetro e as perpectivas para 2016 da Função Consumo C, desenvolvida pelo Prof. Augusto Mateus. O consumo privado acelerou em 2015, confirmando a tendência de recuperação económica. Depois de três anos sucessivos de recessão - 2011, 2012 e 2013 - e da viragem, em 2104, a economia portuguesa alcançou em 2015 um crescimento económico um pouco mais positivo (+1,5%) que o ano anterior, confirmando uma recuperação económica efectiva, embora limitada. Por seu turno, o Barómetro revela consumidores mais satisfeitos com o presente e (mais) confiantes no futuro. O Mood C acelera a sua tendência de melhoria, atingindo máximos nunca alcançados desde o início da série longa, no primeiro trimestre de 2010. Constata-se um aparente paradoxo: de um lado, uma economia com uma recuperação efectiva, mas muito limitada, que augura uma desaceleração de crescimento face ao ano anterior. Do outro, um consumidor com um Mood de Positivismo (porque conscientemente focado no curto prazo e nos aspectos que pode controlar), que está provadamente a alterar aspectos qualitativos do seu modelo de consumo – a recuperação de consumo não se está a fazer através de um processo de mera “reversão” ou de simples retorno à “casa de partida”, mas recentrado e assente num tripé de categorias mais estruturantes – as que lhe permitem ser melhor indivíduo / melhor família / melhor cidadão. Um macro desorganizado, imprevisível, estabelece um novo e devido lugar para as marcas. Mas o desafio é grande: os consumidores estão mais conscientes e capacitados para avaliar o valor do que lhes é proposto - pensam mais (e, às vezes, melhor) que as marcas. Cabe-lhes proporem-se o mesmo grau de exigência: aspirar a outros patamares, a outras linguagens, a outra capacitação. Estamos seguros de que vale a pena pensar grande!
C-LAB
Somos um laboratório especializado no conhecimento e análise de comportamentos de mudança do consumidor.